Dia da Favela: o papel da comunidade na sociedade
Hoje, 4 de novembro, é celebrado o dia da favela. A data, que está incluída desde 2006 no calendário oficial da cidade, visa chamar a atenção para o protagonismo da favela na sociedade. É um dia para discutirmos políticas públicas nesses espaços, pois o debate sobre temáticas relacionadas às comunidades é fundamental para garantir o desenvolvimento econômico, social e cultural do município e do nosso país.
Segundo o último censo, o Rio de Janeiro é a cidade com mais gente vivendo em comunidades. As favelas do Rio têm hoje 1,39 milhão de habitantes, seguido por São Paulo, com 1,28 milhão. A capital fluminense abriga o Morro da Providência, a favela mais antiga do Brasil, e também a favela mais populosa do país: a Rocinha, na Zona Sul. Para termos uma dimensão da grandiosidade e importância desse território, só a comunidade da Rocinha abriga pelo menos 70 mil habitantes, tornando-a mais populosa que 90% dos municípios brasileiros. A Central Única das Favelas – a CUFA, destaca um dado muito relevante e que deveria ganhar mais visibilidade. Segundo pesquisa desta conceituada instituição social, os moradores da favela movimentam R$ 119,8 bilhões em renda própria por ano. O valor supera a massa de renda de 20 dos 27 estados do Brasil, e é maior que o consumo de vizinhos sul-americanos, como Bolívia, Uruguai e Paraguai.
A Ilha do Governador possui 32 Favelas, com estimativa de mais de 70 mil habitantes. A mais famosa delas é o Morro do Dendê, complexo de favelas localizado na parte central da nossa região e que se estende pelos bairros do Moneró, Jardim Carioca, Cocotá, Cacuia, Tauá e Bancários. O Dendê, que não para de crescer, já é considerado a terceira maior favela carioca.
Nos anos 90, as comunidades da Praia da Rosa e Sapucaia, que eram de palafitas, receberam o programa denominado “bairrinho”, projeto piloto que mais tarde tornou-se o programa “Favela Bairro” e que, logo em seguida, também foi implementado na comunidade do Parque Royal ( Maruim). Essas três comunidades foram pioneiras em receber um programa inovador para a época e deveriam ser modelos de infraestrutura social, mas hoje vemos uma realidade bem diferente, em que os moradores sofrem cada vez mais com a falta de continuidade das obras do Favela Bairro, principalmente em saneamento básico e com a falta de projetos que acompanhem o crescimento a que foram submetidas.
No dia da favela não temos muito o que celebrar em nossas comunidades, que estão longe de ser vitrine do programa que anos atrás trouxe urbanização e qualidade de vida aos moradores. Mas, devemos exaltar as diversas manifestações culturais, artísticas, sociais, de honestidade e solidariedade que existem e são marca da grande maioria das pessoas que, assim como eu, nasceram, cresceram e vivem nas comunidades. Isso sim é um motivo a se comemorar.
O número de favelas no Brasil mais que dobrou desde 1985, portanto já passou da hora dos governos criarem uma agenda com ações efetivas em políticas públicas de curto, médio e longo prazo em total coalizão com os diversos representantes e instituições sociais, para que as comunidades se tornem cada vez mais sustentáveis e empreendedoras, deixando de ser consideradas um problema social e vista ainda com tantos preconceitos.
A favela não pode mais ser vista somente como sinônimo de carência. É preciso que sejam reconhecidas como exemplo de resistência e potência. Afirmo que toda a sociedade tem muito o que aprender com a resiliência, força, autenticidade e com a agenda positiva tão presente nesses territórios.
Não vejo um futuro melhor que não passe pelos becos e vielas das nossas favelas.