Terminal pesqueiro divide opiniões de moradores da Ilha do Governador
A instalação do Terminal Pesqueiro Público divide os moradores da Ilha do Governador, bairro da zona norte carioca onde está localizado o Aeroporto Internacional Antônio Carlos Jobim (Galeão). O projeto do Ministério da Aquicultura e Pesca visa a melhorar as condições de trabalho dos pescadores do estado e busca fortalecer o mercado, oferecendo infraestrutura para guardar e comercializar o pescado.
“O Ministério da Pesca apoia a implementação desse equipamento. Evidentemente que vamos cumprir todas as formalidades legais, as recomendações ambientais, do ponto de vista da Aeronáutica e da Infraero [Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária] ”, afirmou o superintendente regional do ministério, Jayme Tavares.
Ele defendeu a localização do terminal na Praia na Ribeira como a melhor opção. Segundo Jayme, o início das obras está previsto para julho e só depende da concessão da licença prévia pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea).
Mas a iniciativa esbarra na resistência de grande parcela de moradores da Ilha do Governador, que não concordam com a instalação do terminal na Ribeira. Para eles, depois que a obra estiver pronta, aumentará a circulação de caminhões no bairro, o que vai piorar o trânsito na região. Muitos moradores também estão preocupados com o mau cheiro e os riscos à aviação, por causa dos pássaros atraídos pelos peixes.
“Nós somos favoráveis à instalação de um terminal pesqueiro no estado do Rio de Janeiro. Porém, a localização é completamente ilegal. Aquele área é de uso residencial e o plano diretor do município proíbe instalação industrial”, afirmou o ambientalista Sérgio Ricardo, morador da Ilha do Governador.
Segundo ele, a grande movimentação de barcos e de caminhões causará impactos em uma das poucas áreas de mangue ainda preservadas na Baía de Guanabara. “O Manguezal do Jequiá é protegido e reconhecido internacionalmente como local de atração e reprodução de aves e peixes.”
Na última quarta-feira (9), defensores e opositores da iniciativa se encontraram em uma audiência pública promovida pela Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). O clima chegou a ficar tenso quando um documento da prefeitura do Rio foi divulgado, com autorização para a continuidade do processo de licenciamento. Depois disso, metade dos participantes deixou a audiência, em protesto.
Para o deputado estadual Carlos Minc (PT), a construção do terminal vai beneficiar tanto o meio ambiente, ao reduzir o número de atracadouros clandestinos que existem na Baía de Guanabara, quanto os moradores da Ilha do Governador, que devem lutar por garantir contrapartidas em investimento.
“Um terminal moderno vai diminuir a poluição na Baía de Guanabara e melhorar a qualidade do peixe que nós comemos. A Ilha do Governador tem que mostrar o que ela precisa para melhorar os transportes e as condições de vida. Creio que todos poderão sair ganhando”, afirmou Minc, ex-ministro do Meio Ambiente.
Entretanto, moradores contrários ao projeto, como o aposentado Aluisio Lemos, não se convencem das possíveis melhorias e continuam pedindo o embargo das obras. “Eu sou contra a instalação, em primeiro lugar, porque é ilegal. Depois tem a questão do trânsito, que é crítica. Quem mora na Ilha do Governador e trabalha fora, cada dia tem que acordar mais cedo. Agora eles dizem que vão colocar mais 400 caminhões. A qualidade de vida do morador vai cair ainda mais”, protestou.
A assessoria do Inea informou que a licença prévia, que possibilitará o início das obras, foi requerida em março, mas ainda está em análise, sem prazo para ser concedida.
Agência Brasil