Estudo da UFRJ indica que uso de esteroides altera nível de hormônio da tireoide
Estudo desenvolvido por pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) comprova que o tratamento com o esteroide anabolizante (EAA) altera os hormônios da tireoide e o metabolismo da glicose, como resistência insulínica e alterações nas vias de produção de glicose no jejum.
Informações obtidas pela Agência Brasil revelam que os dois estudos demonstram que a utilização crônica de EAA pode levar a alterações dos hormônios do organismo que acarretam modificações importantes nas taxas de glicemia, colesterol e triglicerídeos, impactando negativamente na saúde dos indivíduos que fazem uso dessas substâncias.
A comprovação das implicações que o uso dos esteroides e dos impactos que podem causar no organismo é considerada pelos pesquisadores como de fundamental importância para a conscientização da população e para profissionais da área de saúde, incluindo professores de educação física, sobre os efeitos colaterais relacionados à utilização de anabolizantes.
Para o coordenador do estudo, Rodrigo Fortunato, “é muito importante que esses profissionais estejam bem informados para poderem esclarecer o público sobre o tema, exercendo, assim, seu papel de promotores de saúde e bem-estar da população”. Fortunato coordena a pesquisa junto com o aluno de mestrado Luiz Fernando Fonteboa.
Educação física
Ao comentar a pesquisa, o presidente do Conselho Regional de Educação Física do Rio de Janeiro e Espírito Santo (Cref1), André Dias de Oliveira Fernandes, afirmou que qualquer pesquisa desenvolvida com o tema é importante para que os profissionais de educação física possam estejam conectados com o que há de mais novo sobre o assunto.
Segundo Fernandes, sempre se pode acrescentar dados e fatos novos às muitas discussões sobre o uso de esteroides anabolizantes em competições esportiva, que têm, inclusive, órgãos de fiscalizações próprios para coibir o uso dessas substâncias, inclusive para fins estéticos.
André Fernandes defende a importância da presença da figura do profissional de educação física em locais onde se pratica as mais variadas formas de atividade física, como academias, estúdios, clubes, entre outros. “É esse profissional, devidamente habilitado no conselho, que irá orientar de forma segura e eficiente a prática de exercícios sem a necessidade do uso dessas substâncias.”
Para o presidente do Cref1, é preciso cuidado na busca de informações em redes sociais ou com pessoas sem formação, “de modo que essa busca, muitas vezes apenas por uma estética melhor, não afete a saúde e acarrete problemas com consequências sérias no futuro”. Segundo ele, havendo dúvidas no início de um exercício físico, o Cref1 pode ser consultado para saber se a pessoa que está orientando a atividade é um profissional habilitado.
Radicais livre
Os pesquisadores da UFRJ também concluíram que a utilização de doses elevadas de anabolizantes aumenta a produção de radicais livres em tecidos como fígado, rins e coração.
“É importante ressaltar que os radicais livres podem interagir com macromoléculas celulares como lipídeos, proteínas e ácidos nucleicos, o que está associado à fisiopatologia de diversas doenças como diabetes, câncer e infarto do miocárdio”, alertou Rodrigo Fortunato.
As informações indicam que duas pesquisas estão em andamento com praticantes de musculação que relataram o uso de esteroides. Estão sendo avaliadas a produção e detoxificação de radicais livres no sangue e suas consequências fisiológicas, a relação entre hipertensão arterial e o sistema renina angiotensina, sistema hormonal relacionado ao controle da pressão arterial, além de marcadores inflamatórios.
Esteroides anabolizantes
Os esteroides anabolizantes (EAA) são compostos sintéticos derivados da testosterona, cuja ação fisiológica desenvolve efeitos divididos em duas categorias principais: os androgênicos e os anabólicos.
A primeira categoria diz respeito à função reprodutora e manutenção das características sexuais masculinas, enquanto a segunda sobre a estimulação do crescimento e maturação dos tecidos não-reprodutores, entre eles os tecidos muscular e ósseo.
No início dos anos 50, fisiculturistas e halterofilistas começaram a utilizar os EAA para melhorar a aparência física e o rendimento atlético. Sua utilização, no entanto, vem aumentando em larga escala desde a década de 70, se disseminando também entre praticantes de outras modalidades esportivas e de exercícios recreacionais.
“As doses utilizadas por esses indivíduos chegam a ser 100 vezes maiores que as concentrações fisiológicas de testosterona. Estão associadas a uma série de efeitos colaterais que variam de acordo com a dose e o tempo de administração das drogas, sendo alguns deles irreversíveis”, alertam os pesquisadores.
Texto: Nielmar de Oliveira – Repórter da Agência Brasil
Edição: Armando Cardoso