Bebês morrem e familiares acusam hospital de negligência
Inconformados com a perda dos filhos, pais de recém-nascidos na Maternidade Municipal do Maria Amélia Buarque de Hollanda, no Centro do Rio, resolveram procurar a polícia. Pelo menos cinco bebês morreram na unidade hospitalar nos últimos meses. Há relatos de mulheres que ficaram em trabalho de parto durante 25 horas. Segundo os familiares, a insistência do hospital em realizar o parto normal compromete a vida dos bebês e das mães.
A universitária Carla Marins moradora da Ilha, começou a passar mal na quinta-feira (2), mas chegou à maternidade e recebeu a informação de que deveria voltar para casa. O bebê nasceu às 13h45 de sexta-feira (3).
“Subiram em cima de mim duas vezes para tentar empurrá-lo. Estou com a parte debaixo do peito toda dolorida até hoje. Meu filho foi assassinado brutalmente. Fui torturada durante o trabalho de parto naquela maternidade. Perdi o sentido várias vezes”, lembra Carla.
O parto normal durou 15 horas. O bebê foi direto para a UTI neonatal, mas, após três dias, não resistiu a complicações e morreu na segunda-feira (7). Os pais alegam que a gravidez foi perfeita e que a culpa pela morte foi do parto mal feito.
O drama também foi vivido por Ariane Katlei da Silva, de 18 anos que entrou em trabalho de parto no dia 28 de junho, foi levada para o Hospital Paulino Werneck, na Ilha do Governador, e transferida para a Maternidade Maria Amélia em seguida.
De acordo com ela, após quase 18 horas em trabalho de parto, a equipe médica resolveu realizar uma ultrassonografia, que constatou que o bebê estava morto. “Se eles não tivessem demorado tanto, minha filha estaria aqui comigo. Ela nasceu com o cordão umbilical enrolado no pescoço”, lamenta a dona de casa, destacando que mesmo após a constatação da morte do bebê, a equipe médica continuou a induzir o parto normal.
A direção do hospital esclarece que a paciente Mayara da Silva Rosa foi internada na noite da sexta-feira, dia 4, em trabalho de parto. Foi encaminhada para o Centro de Parto Normal e assistida pela equipe obstétrica, com avaliações periódicas da vitalidade fetal. A equipe médica decidiu realizar a cesárea ao constatar a presença de líquido meconial espesso. O bebê ficou internado na UTI Neonatal, mas foi a óbito no domingo, dia 6.”
Nesta terça (9), as donas de casa Mayara da Silva Rosa, de 20 anos, e Carla Marins, de 29, enterraram seus primeiros filhos no Cemitério da Cacuia, na Ilha do Governador. “Se pudesse voltar no tempo, não teria ido para aquela maternidade. Eles mataram minha filha. Só no último momento eles fizeram a cesárea, mas minha filha já estava em sofrimento. Me explicaram que ela tinha engolido o próprio cocô”, afirmou Mayara. De acordo com o hospital, a cesárea foi realizada após a constatação de líquido meconial espesso.
O Conselho Regional de Medicina (Cremerj) ressalta que o parto normal é a melhor alternativa, desde que seja preservada a saúde do bebê e da gestante. “O que a gente precisa ter é bom senso. Estão colocando a cesárea como grande vilã, quando, na verdade, ela salva vidas, salva mãe, salva feto. A gente não quer que se force um parto normal para manter o número dentro de uma maternidade”, explicou a obstetra e conselheira do Cremerj Vera Fonseca, destacando que a política do Governo municipal é a redução máxima do número de cesáreas na rede.
Em nota, a Prefeitura do Rio diz que o Hospital Maternidade Maria Amélia Buarque de Hollanda é a unidade com o indicador mais próximo do que é preconizado pela Organização Mundial da Saúde, que são 20% de cesáreas. Segundo a nota, o índice considerado ideal de cesarianas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é de 15%, restringindo-se aos casos em que haja de fato indicação clínica para a cirurgia.
SRZD e G1